
O divórcio dos pais não é fácil para ninguém, mas pode ser particularmente desafiador para os adolescentes. Essa fase da vida é marcada por intensas transformações emocionais e sociais, deixando os jovens especialmente vulneráveis às mudanças decorrentes da separação parental.
Compreender profundamente o impacto do divórcio nos adolescentes é crucial para oferecer-lhes o suporte emocional adequado, permitindo que eles atravessem essa transição com segurança e equilíbrio emocional.
Durante a adolescência, os jovens estão construindo sua identidade, definindo suas crenças e valores. Nesse período, o divórcio dos pais pode intensificar sentimentos como insegurança, ansiedade, raiva e tristeza. Segundo Féres-Carneiro (2014), o divórcio é percebido como uma ruptura profunda, semelhante a um processo de luto, afetando diretamente a sensação de segurança e estabilidade dos adolescentes.
Mudanças práticas, como a reorganização das rotinas familiares, novas responsabilidades e desafios financeiros, frequentemente aumentam o nível de estresse dentro do ambiente doméstico. Muitos adolescentes acabam assumindo responsabilidades precoces ou sentem-se pressionados a tomar partido em conflitos parentais, prejudicando sua autoestima e desempenho escolar.
Nesse contexto delicado, é fundamental que os pais e familiares saibam como ajudar adolescentes durante a separação. Um elemento-chave é estabelecer uma base sólida de apoio emocional, começando por uma comunicação clara e honesta. É essencial deixar explícito que o amor e a atenção dos pais permanecem inalterados, independentemente da separação conjugal. Muitos adolescentes expressam a necessidade de serem ouvidos e compreendidos, destacando a importância do diálogo aberto, como exemplificado por frases comuns como “Gostaria que meus pais parassem de brigar e me perguntassem como me sinto”.
Conversar com seu filho de maneira transparente, permitindo que ele expresse seus sentimentos livremente, assegurando que ele não é responsável pelo divórcio, pode ser transformador para sua estabilidade emocional. Manter rotinas estáveis, com horários regulares para refeições, estudos e lazer, auxilia a reduzir a ansiedade e promove uma sensação de segurança. Lucas, de 17 anos, por exemplo, encontrou conforto justamente na estabilidade das rotinas cuidadosamente mantidas após a separação dos pais.
Outra recomendação crucial é proteger o adolescente dos conflitos conjugais, evitando que ele assuma o papel de mediador ou mensageiro nas questões entre os pais. Para isso, pais separados devem estabelecer limites claros e utilizar canais neutros para conversas importantes. Reuniões regulares sobre questões práticas relativas aos filhos podem reduzir conflitos e proporcionar maior estabilidade.
Quando os sintomas emocionais persistem ou se intensificam, a psicoterapia para filhos de pais separados pode ser extremamente benéfica. Silva & Almeida (2020) destacam que a terapia proporciona um ambiente seguro e acolhedor, onde os adolescentes podem explorar suas emoções livremente, entender melhor a situação e desenvolver estratégias eficazes para enfrentar os desafios emocionais gerados pela separação dos pais. Maria, de 15 anos, por exemplo, conseguiu lidar melhor com a situação quando recebeu um espaço aberto para expressar seus sentimentos em sessões de terapia.
Por meio da psicoterapia, os jovens aprendem a gerenciar melhor suas emoções, fortalecem a autoestima e desenvolvem uma autonomia emocional que promove seu amadurecimento saudável. Além disso, professores e educadores desempenham um papel importante nesse processo. Eles devem estar atentos a sinais como mudanças bruscas de comportamento, queda no rendimento escolar ou isolamento social. Oferecer suporte emocional e encaminhar o aluno para o serviço de apoio psicológico da escola pode fazer toda a diferença.
A reorganização familiar e a participação ativa dos pais são fundamentais para minimizar o impacto emocional do divórcio nos adolescentes. Especialmente quando a guarda é compartilhada, é imprescindível estabelecer claramente as responsabilidades e garantir uma comunicação eficaz e constante entre os pais. Wagner (2018) enfatiza que esse comprometimento pode ajudar a manter vínculos afetivos fortes e proporcionar um ambiente estável e coerente ao adolescente.
Independentemente do novo arranjo familiar adotado, é preciso entender que a reorganização exige tempo, dedicação e compreensão. Os filhos precisam de suporte contínuo para lidar com a nova dinâmica familiar. O apoio emocional aliado a uma comunicação clara, empática e respeitosa entre os pais contribui significativamente para um desenvolvimento emocional saudável dos adolescentes.
Filmes como “História de um Casamento” e livros como “Família e Casal: Efeitos Psicológicos do Divórcio”, de Féres-Carneiro, são excelentes recursos adicionais que podem ajudar tanto pais quanto adolescentes a entender e lidar com a separação de maneira construtiva.
Por fim, é importante reconhecer que o divórcio, embora desafiador, pode também ser uma oportunidade valiosa de crescimento emocional e amadurecimento para os adolescentes, desde que recebam o suporte adequado. Filhos precisam ser tratados com empatia e respeito, jamais como intermediários em conflitos parentais.
Como especialista em relações familiares, recomendo fortemente que os pais busquem apoio profissional sempre que necessário, assegurando que o processo de separação seja vivenciado de maneira saudável por toda a família.
Referências Bibliográficas:
Féres-Carneiro, T. (2014). Família e Casal: Efeitos Psicológicos do Divórcio. São Paulo: Editora Casa do Psicólogo.
Silva, M. C., & Almeida, R. T. (2020). Psicoterapia com Adolescentes Filhos de Pais Divorciados: Abordagens e Intervenções. Curitiba: Editora Appris.
Wagner, A. (2018). Adolescentes e o Divórcio dos Pais: Impactos e Superações. São Paulo: Editora Pearson.