
O Papel do Padrasto no Século 21:
Construindo Novos Laços nas Famílias Reconstituídas
No século 21, o conceito de família se expandiu. Cada vez mais vemos famílias reconstituídas, compostas por diferentes histórias de vida e novos laços afetivos. Dentro desse novo contexto, o papel do Padrasto ganhou protagonismo. Mais do que “substitutos”, padrastos modernos são figuras de apoio, respeito e amor, participando ativamente do desenvolvimento emocional dos enteados.
Famílias Mistas e o Novo Significado de Parentalidade
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021) aponta que o número de famílias reconstituídas no Brasil aumentou cerca de 23% na última década. Esta mudança social redefine o papel parental. Segundo Carter e McGoldrick (2016), “a diversidade de configurações familiares exige flexibilidade emocional e adaptação constante dos envolvidos”.
O padrasto, dentro dessa nova dinâmica, é chamado a construir um vínculo baseado na confiança e no respeito, sem a obrigatoriedade de substituir o pai biológico.
As Emoções Que Cercam a Relação Padrasto-Enteado
Formar um laço afetivo não é imediato. Pesquisas recentes (Ganong & Coleman, 2017) mostram que padrastos que adotam uma postura paciente e compreensiva têm maiores chances de construir relações duradouras e positivas com seus enteados.
Para as crianças, lidar com a presença de um padrasto pode ser desafiador, pois envolve sentimentos de lealdade ao pai biológico. Para o padrasto, o desafio está em encontrar o seu espaço, respeitando os limites emocionais dos filhos de seu parceiro ou parceira.
Histórias Reais Que Inspiram
“Quando entrei na vida da Bárbara e do Henrique, eles eram pequenos. Meu medo era ser rejeitado. Entendi que mais importante do que ser aceito era ser constante. Hoje, eles me veem como um porto seguro, sem que isso tenha diminuído o amor que sentem pelo pai deles.” (Relato inspirado em situações reais).
O Papel Ativo e a Presença Afetiva
O padrasto moderno participa de atividades escolares, conversa sobre sonhos e dificuldades, ajuda na formação de valores e está presente nos momentos de necessidade emocional. Estudos de Lamb (2010) reforçam que “a qualidade da relação afetiva é mais importante do que a ligação biológica” para o desenvolvimento saudável da criança.
Exemplo Cotidiano
Pedro, de 12 anos, compartilha que foi seu padrasto quem o ajudou a construir um carrinho para a feira de ciências. “Eu vi que ele se importava comigo de verdade, não porque precisava, mas porque queria”.
Desafios e Possibilidades na Convivência Familiar
É fundamental reconhecer que o processo é gradual. Virginia Satir (1972) alertava que “relações familiares não se constroem pela imposição, mas pela compreensão e aceitação das diferenças”.
Boas Práticas para um Relacionamento Saudável:
Respeitar a memória e a presença do pai biológico;
Ser paciente e consistente na construção da relação;
Evitar competir pelo afeto da criança;
Participar de forma ativa, mas sem imposição;
Promover espaços de escuta e diálogo afetivo.
Quando Buscar Apoio Profissional
Quando conflitos persistem ou quando sentimentos de rejeição e distanciamento se tornam intensos, buscar apoio de um terapeuta familiar pode ser decisivo. A terapia sistêmica, como aponta Nichols (2020), “ajuda os membros da família a entenderem seus papéis e a reorganizar padrões de comunicação”.
Construindo Uma Nova História
O padrasto de hoje não é um substituto, é uma presença afetiva complementar. Trata-se de cultivar laços baseados em respeito, amor e presença constante.
Em vez de perguntar “quem é meu pai?”, muitas crianças passam a se perguntar: “quem me ama, quem está ao meu lado?”. E nessa resposta, padrastos encontram seu verdadeiro lugar.
Conclusão
O papel do padrasto no século 21 é sobre amor expandido, respeito aos espaços afetivos e construção de novas histórias familiares. Num mundo em transformação, acolher essas novas formas de ser família é também promover o bem-estar emocional de todos os envolvidos.
Referências:
Bowen, M. (1978). Family Therapy in Clinical Practice.
Satir, V. (1972). Peoplemaking.
Walsh, F. (1998). Strengthening Family Resilience.
Carter, B., & McGoldrick, M. (2016). The Expanded Family Life Cycle.
Ganong, L., & Coleman, M. (2017). Stepfamily Relationships: Development, Dynamics, and Interventions.
Lamb, M. E. (2010). The Role of the Father in Child Development.
Nichols, M. P. (2020). Family Therapy: Concepts and Methods.
IBGE (2021). Estatísticas sobre Famílias Brasileiras.
Autora: Margarete Volpi