Adolescentes do Divórcio

26 de setembro de 2019
Adolescentes do Divórcio
Adolescentes do divórcio enfrentam uma série de desafios significativos. Eles não só lidam com problemas e conflitos familiares, mas também precisam se readaptar à nova configuração familiar e assumir novas responsabilidades. A complexidade da fase da adolescência agrava ainda mais essa situação. A separação dos pais exige que esses jovens reestruturem suas rotinas e relações, muitas vezes sem o suporte emocional contínuo de ambos os pais. Esse período pode ser marcado por sentimentos de perda e insegurança, exigindo um esforço significativo para encontrar estabilidade emocional e novos modos de convivência.

O divórcio é uma ruptura no sistema familiar que resulta em uma série de mudanças na estrutura familiar básica e em todos os seus relacionamentos. Conforme Mc. Goldrick (1989) aponta, a separação exige uma mudança na maneira de funcionamento das famílias, provocando uma nova definição de vida familiar. No momento da separação, além de toda a problemática existente entre o casal, surgem questões relacionadas ao dinheiro, paternidade, relacionamentos sociais e a perda, que considero como um processo de luto para todos os membros do sistema familiar. Essas dificuldades exigem da família um tempo considerável de reorganização.

Os problemas financeiros costumam surgir logo nos primeiros passos da separação. Mesmo em famílias com bom poder aquisitivo, a divisão de bens materiais e de dinheiro pode resultar em uma queda no padrão de vida para ambos os cônjuges.

Quando a mulher é financeiramente independente, ela precisará se reorganizar para assumir novas responsabilidades. Mesmo com o suporte financeiro destinado à educação dos filhos, será necessário ajustar-se à nova realidade.

Além disso, ela pode precisar reorganizar sua rede de apoio, envolvendo familiares e prestadores de serviços. Se, durante o casamento, essa mulher se dedicou exclusivamente aos afazeres domésticos, o desafio pode ser ainda maior. Enfrentar a nova vida com um orçamento doméstico reduzido muitas vezes significa a necessidade de ingressar no mercado de trabalho.

A reorganização da família é um aspecto crucial quando a guarda dos filhos é compartilhada. Nesse contexto, os pais precisam redefinir suas funções e responsabilidades para garantir que os filhos recebam o apoio necessário.

Esse arranjo pode trazer benefícios, como a manutenção de vínculos fortes com ambos os pais. No entanto, se não for bem gerido, também pode ser uma fonte de conflito e estresse. A guarda compartilhada exige uma comunicação eficaz e cooperação constante entre os pais, visando criar um ambiente estável e seguro para os adolescentes.

Quando o pai assume a guarda dos filhos, a reorganização pode se tornar ainda mais complexa. Sem o apoio da mãe na administração dos afazeres domésticos, ele precisará dedicar tempo diário à educação e atenção dos filhos. Isso demanda confiar em sua própria capacidade, o que pode ser um desafio significativo em um momento de tantas mudanças.

Os problemas de paternidade nas novas famílias surgem com a dificuldade de disciplinar e educar os filhos, que se encontram fragilizados. A ausência de um dos pais provoca uma lacuna na hierarquia familiar, aumentando o nível de exigência sobre quem fica.

Quando a mulher precisa trabalhar em tempo integral, acumula as tarefas domésticas, criando uma rotina de dois ou três turnos e reservando pouca energia para satisfazer as necessidades dos filhos, que também passam por uma grande perda. O sentimento de perda é comparável ao luto, pois a separação é percebida como irreversível, afetando a segurança e as certezas anteriormente construídas.

Independente da idade dos filhos, a mãe e o pai precisam se estabelecer como cuidadores responsáveis. O papel dos pais não muda com a separação. No âmbito social, podem ocorrer rupturas nos relacionamentos anteriores do casal, e as partes separadas podem se sentir inadequadas para atividades sociais.

Se o casal tem filhos adolescentes, há um processo adicional de transformação. A adolescência exige novas organizações e diálogos, proporcionando inseguranças e questionamentos. Os adolescentes estão aprendendo a olhar o mundo a partir de si mesmos, e os pais devem construir uma relação com eles como jovens adultos.

O tempo é fundamental para a adaptação após a separação. É necessário tempo para que cada membro da família se reorganize e negocie as novas necessidades. Quando os pais mantêm vínculos com ambos os filhos, o adolescente pode suportar melhor as mudanças.

A separação pode trazer ganhos qualitativos para os adolescentes se os pais permanecem ativos e presentes, contribuindo para o senso de responsabilidade e autonomia dos filhos. A nova realidade familiar pode favorecer o amadurecimento dos adolescentes, que acabam por adquirir mais experiência e amadurecer mais rápido.

Por outro lado, arranjos disfuncionais, como a ausência de um dos pais, podem levar o filho mais velho a assumir responsabilidades dos irmãos, subindo na hierarquia familiar e tomando para si as dores da relação do casal separado.

É crucial não perder de vista que os filhos são sempre filhos e não objetos de negociação. É necessário ouvir e falar com eles de maneira segura e tranquilizadora, reduzindo as ansiedades e evitando tormentos inúteis. Compartilhar sentimentos com responsabilidade promove um ambiente de confiança e empatia, inibindo comportamentos agressivos e facilitando o diálogo.

Como psicóloga especializada em divórcio e reconstituição de relacionamentos familiares, acredito que compartilhar informações entre os membros da família e buscar apoio profissional na comunidade contribui para clarificar as situações de estresse e possibilitar resoluções adequadas às necessidades de todos.

Dra. Margarete Ap. Volpi
Psicoterapeuta Familiar e casal.

Referências Bibliográficas

  1. Féres-Carneiro, T. (2014). Família e Casal: Efeitos Psicológicos do Divórcio. Editora Casa do Psicólogo.

  2. Carter, B., & McGoldrick, M. (2021). As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: Uma Estrutura para a Terapia Familiar. Artmed.

  3. Wagner, A. (2018). Adolescentes e o Divórcio dos Pais: Impactos e Superações. Editora Pearson.

  4. Rapoport, A., & Piccinini, C. A. (2015). Relações Familiares e Desenvolvimento: Implicações do Divórcio na Adolescência. Editora Juruá.

  5. Silva, M. C., & Almeida, R. T. (2020). Psicoterapia com Adolescentes Filhos de Pais Divorciados: Abordagens e Intervenções. Editora Appris.