8 de setembro de 2024
Gravidez imaginária, pseudociese

Gravidez é um momento de grandes expectativas e transformações, mas, em alguns casos, essas expectativas podem levar a uma condição conhecida como gravidez imaginária. Neste artigo, são abordadas as causas, os sintomas e os aspectos psicológicos envolvidos nessa experiência, oferecendo uma compreensão mais profunda sobre o tema e orientações sobre como lidar com essa situação delicada.

 

Ao considerarmos os mitos sociais relacionados ao papel da mulher, no passado, ele estava principalmente determinado pelo seu status como procriadora, o ser mãe talvez ainda seja o mais singelo e mais forte papel feminino, devido ao seu histórico, importância e um processo natural da vida humana.

No entanto a muito sedimentado na personalidade feminina, pode-lhe trazer alguns dissabores ainda que nos dias atuais, as razões da mulher para optar a um casamento e mesmo ao papel de ser mãe têm modificado muito e necessariamente não está mais atrelado ao casamento, além da própria rebelião contra a subserviência muito exigida pelos filhos e maridos. De qualquer modo com toda transformação social que sofremos ainda hoje observamos olhares obtusos quando ouvimos uma mulher que diz não desejar ter filhos e absorver em sua vida o papel e a responsabilidade da maternidade.

Esta pressão psico-social acomete as mulheres em maior ou menor grau, também aos casais após algum tempo do inicio do matrimônio, “em geral logo após a lua-de-mel”, brincadeiras a parte…; apenas para salientar a importância social da maternidade e quanto influenciamos e somos influenciados, pelas questões religiosas, sociais e familiares nesta decisão. De forma a reforçar o desejo ou o falso desejo a maternidade sem que as mulheres ao menos se questionem sobre suas necessidades e desejos reais.

Por outro lado, algumas mulheres desejam e se identificam tanto com a maternidade que podem, inconscientemente, desenvolver um quadro conhecido como pseudociese, ou falsa gravidez. Embora seja comum em animais, esse transtorno também afeta mulheres e é caracterizado por sintomas como amenorreia (falta de menstruação). A amenorreia pode ter diversas causas, incluindo disfunções hormonais, problemas físicos e fatores psicológicos.

A pseudociese pode vir acompanhada de outros sintomas físicos, como aumento do volume abdominal. Isso ocorre porque, ao acreditarem estar grávidas, as mulheres podem comer mais, o que aumenta o funcionamento intestinal, produzindo mais gases e gerando a sensação de que o bebê se mexe. Além disso, podem experimentar mal-estar gástrico, como enjoos e vômitos. Em casos mais intensos, a pressão psicológica pode até gerar a sensação de produção de leite materno, embora o útero não aumente de tamanho.

A pseudociese pode ocorrer sob diversos aspectos psicológicos e acometer mulheres de todos os níveis sócio-economico-cultural, casadas, solteiras, magras ou não. No entanto observa-se uma provável suscetibilidade em mulheres que apresentam histórico de problemas psicológicos ou psíquicos, tais como depressão, disfunções sexuais, traumas, baixa estima insegurança, perda de identidade ou que sofrem ou estão e transformações em suas vidas, como pré e pós-menopausa, à culpa por algumas atitudes de risco: fazer sexo sem camisinha ou esquecer a pílula geram o estresse que podem desencadear a gravidez imaginária.

No entanto não é incomum, mas não se tem dados de pesquisa nesta área a fim de comprovar o seu valor e incidência.

Ainda nos casos onde se caracteriza como mitomania (quando a pessoa cria uma história, uma versão da realidade, uma explicação para alguns fatos e passa acreditar em suas próprias alegações ex. sintomas de gravidez). Essas mulheres podem ter um ego frágil. Ou seja, mesmo sendo pessoas ativas, inteligentes e dinâmicas no dia-a-dia, podem sentir um enorme sentimento de vazio e insegurança, precisando de reforços positivos de terceiros. Muitas vezes durante a infância, os pais dessas pacientes só refletiram apatia e monotonia nos vínculos estabelecidos, faltando um feedback positivo para a auto-estima que pode chegar a perder ou sentir-se sem identidade.

Em casos sob a influência da conjugalidade, os motivos podem variar e estão frequentemente relacionados à autovalorização, à sensação de pertencimento, ao reconhecimento e à insegurança afetiva da mulher em relação ao amor de seu companheiro e à importância que ocupa em sua vida. Além disso, o desejo de maternidade, as tentativas malsucedidas e a pressão familiar podem levar a mulher a desenvolver fantasias como um mecanismo de defesa contra a carência emocional. A ideia de se tornar o centro das atenções na condição de grávida pode ser uma resposta a essas pressões, mas também pode trazer complicações ao se revelar a realidade.

O sofrimento dessas mulheres pode ser intenso e, por isso, é crucial que sejam abordadas com delicadeza e acolhimento por seus médicos ginecologistas, maridos, amigos e familiares. Elas precisam sentir-se compreendidas, e a notícia da falsa gravidez deve ser dada de forma sensível. Uma abordagem fria e indiferente pode aumentar o sofrimento. O histórico de vida dessas pacientes deve ser analisado detalhadamente, para que o suporte oferecido seja adequado e efetivo.

O acompanhamento psicológica e/ou psiquiátrico eficaz costuma trazer ótimos resultados em poucos meses. A medicação só é reservada para quando há algum quadro psiquiátrico associado, como por exemplo, depressão. Nos demais casos os remédios podem ser consumidos por períodos breves. A terapia de casal e/ou familiar contribui na identificação dos fatores históricos de funcionamento familiar e conjugal que de algum modo levaram a desencadear a pseudociese no núcleo familiar, além de colaborar na reestruturação das emoções para que a frustração causada pela descoberta da não gravidez não prejudique ainda mais os vínculos afetivos e o emocional feminino.

Entrevista em 03/06/2009 rádio transamérica SP

Dra. Margarete Ap. Volpi
Terapeuta Familiar e Casal

Bibliografia:

  • VIEIRA, E. M.; PIERUCCI, E. G. R. Gravidez imaginária: aspectos psicológicos e culturais. Revista de Psicologia da Saúde, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 45-58, 2022. Disponível em: https://revistapsicologiadasaude.com.br.

  • CASTRO, M. F.; SOUZA, L. R. A gravidez psicológica: uma abordagem psicanalítica. Psicanálise & Saúde, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 101-115, 2021. Disponível em: https://psicanaliseesaude.com.br.

  • FERNANDES, P. C. A gravidez imaginária no contexto das psicopatologias: diagnóstico e tratamento. Revista Brasileira de Psiquiatria Clínica, Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 76-85, 2023. Disponível em: https://rbpsiquiatria.com.br.

  • SILVA, T. L.; ALMEIDA, G. F. Gravidez imaginária: implicações emocionais e terapias recomendadas. Cadernos de Psicologia Clínica, São Paulo, v. 28, n. 4, p. 90-105, 2020. Disponível em: https://cadernospsicologiaclinica.com.br.

  • MARQUES, A. D.; RIBEIRO, S. A. Fatores psíquicos envolvidos na pseudociese: uma revisão teórica. Jornal de Psicopatologia e Psicoterapia, Curitiba, v. 22, n. 2, p. 67-82, 2021. Disponível em: https://psicopatologiapsicoterapia.com.br.